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A LENDA DA CAPOEIRA x JIU-JITZÚ (FONTE: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - Professor de Educação Física CEFET-MA - Mestre em Ciência da Informação)

 

Francisco da Silva Ciríaco, mais conhecido como Macaco Velho, nascido em Campos, foi um dos mais afamados capoeiristas no Rio de Janeiro, na virada do século 19 para os 20. Era o mestre preferido pelos acadêmicos de medicina. Esses estudantes de medicina insistiram no confronto da Capoeira (Macaco Velho) com o Jiu-Jitsú (Sada Miyako, campeão japonês).O evento ocorreu no dia 1º de maio de 1909, com um fulminante desfecho: aplicando um literalmente surpreendente “rabo de arraia”, Ciríaco encerrou a luta em alguns segundos. Mesmo existindo uma versão jamais comprovada de que Ciríaco teria utilizado um recurso, digamos, de rua, mesmo assim, luta é luta, vale-tudo é vale-tudo, e ninguém jamais poderá negar o mérito da vitória.

 

Vejam a notícia original escrita no jornal do Rio de Janeiro "A Pacotilha" de segunda feira, 14 de junho de 1909, que teve por título "JIU-JITZÚ"

"Desde muito tempo vem preocupando as rodas esportivas o jogo do Jiu-Jitzú, jogo este japonês e que chegou mesmo a espicaçar tanto o espírito imitativo do povo brasileiro que o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros. Na ocasião em que o ilustre almirante Alexandrino cogitava em tal medida, houve um oficial-general da armada que disse ser de muito melhor resultado o jogo da capoeira, muito nosso e que, como sabemos, é de difícil aprendizagem e de grandes vantagens. Essa observação do oficial-general foi ouvida com indiferença. A curiosidade pelo jiu-jitzú chega a tal ponto que o empresário do "Pavilhão Nacional", em Niterói, contratou, para se exibir no seu estabelecimento, um campeão do novo jogo, que veio diretamente do Japão. Há alguns dias esse terrível jogador vem assombrando a plateia daquela casa de diversões com a sua agilidade indescritível, com os seus pulos maquiavélicos. Todas as noites o campeão japonês desafia a plateia a medir forças com ele, sendo que, logo nos primeiros dias de sua exibição, se achava na plateia um conhecido "malandrão".Feito o desafio, o "camarada" não teve dúvidas em aceitar, subindo ao palco.Depois de tirar o paletó, colete, punhos, colarinho e as botinas, o freguês "escreveu" diante do campeão, "mingou" abaixo do "cabra"; este assentou-lhe a testa que o japonês andou amarrotando as costelas no tablado. A coisa aqueceu, o japonês indignou-se, quis virar "bicho", mas o brasileiro, que não tinha nada de "paca" foi queimando o grosso de tal maneira que a polícia teve que intervir para evitar... o japonês...

O jornal “A Folha do Dia” publicou o seguinte: “Diversos frequentadores do Pavilhão Nacional vieram ontem a esta redação apresentar o Sr. Ciríaco Francisco da Silva dizendo ter o mesmo senhor vencido o jogador japonês, que se exibe atualmente naquela casa de diversão. O Sr. Ciriaco é brasileiro, trabalhador no comércio de café e conseguiu vencer o seu antagonista aplicando-lhe um "rabo de arraia" formidável, que no primeiro assalto o prostrou. O brasileiro jogou descalço e o japonês pediu que não fosse continuada a luta. Ficam assim cientes os que se preocupam com o novo esporte, que ele é deficiente. Basta estabelecer o seguinte paralelo: no jiu-jitzú a defesa é mais fácil que o ataque; na capoeiragem a grande ciência é a defesa, a grande arte é saber cair. Sobraram razões ao nosso oficial general quando dizia que “o brasileiro sabido, quando se espalha, nem o diabo ajunta".

No dia 15 de maio de 1909, a revista "O Malho" publicou uma reportagem sobre o acontecimento que transformou Ciríaco numa celebridade. Nas palavras do próprio Ciríaco, eis o desenrolar da contenda: ”Cheguei em frente com ele, dei as minha cuntinença e fiz a primeira ginga, carculei a artura do negrinho, a meiada das perna, risquei com a mão p’ra espantá tico-tico, o camarada tremeu, eu disse: então? Como é? Ou tu leva o 41 dobrado ou tu está ruim comigo, pruque eu imbolá, não imbolo. O japonês tremeu, risquei ele por baixo, dei o passo da limpeza gerá, o negrinho aturduou, mexeu, mas não caiu”. Durante a luta, Ciríaco percebeu as reações do público ao seu favor e continua no relato: “Eu me queimei e já sabe: tampei premero, distroci a esquerda, virei a pantana, óia o hóme levando com o rabo-de-arraia pela chocolateira. Deu o ar comprimido e foi cumê poeira. Aí eu fiz o manejo da cumprimentação e convidei o hóme p’ro relógio de repetição, mas o gringo se acontentou com a chamada e se deu por sastifeito”.O êxito na luta resultou em “dezoito mil réis” jogados pela plateia, entrevistas a jornais e demonstrações para estudantes do Rio de Janeiro.

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